Cidades. Brasília, quarta-feira, 13 de julho de 2011. Correio Brasiliense
por Conceição Freitas
Nova espécie humanaA espécie tem nome – troll- e verbete na Wikipédia. Vem da expressão em inglês trolling for suckers, lançado a isca para os trouxas. Um troll entra na discussão virtual com o objetivo sistemático de desestabilizar o debate. A tática é a de provocar os envolvidos até que eles percam a cabeça. Do outro lado, o toll se sentirá pleno: conseguiu mais uma vez inocular seu veneno e sua amargura. O troll é uma espécie subcivilizada. Ele quer provocar sua vítima até que ela perca a paciência – e quem perde a paciência perde a razão. E o troll sabe bem disso. E solta esgares de felicidade quando consegue fazer mais uma vítima.
Se você vir ao seu lado alguém teclando alguma mensagem e com uma riso quase imperceptivelmente cínico, cuidado, você pode estar ao lado de um troll. Há trolls em todas as classes sociais, portanto, ele pode aparecer na sua tela com um português sofrível ou com um arrazoado bem articulado e bem escrito. O troll é incansável, obsessivo no seu desejo de estragar a festa alheia.
A subespécie já foi descrita em artigo publicado na revista The Internacional Review of Law, Computers & Technlogy (revista internacional da lei, computadores tecnologia). O troll, diz o texto, “ não é um monstro rabugento que vive embaixo de uma ponte abordando os passagens, mas alguém que posta sua opinião com a intenção de produzir um grande volume de resposta levianas”. O troll é um provocador profissional, quer ver o circo pegar foto, quer pôr fogo no circo, atravessar a rua e ficar se deliciando com seu feio.
Descobri o troll recentemente, depois que um ou mais deles ( a gente nunca sabe ...) andou atacando Brasília no blog onde publico as crônicas da cidade. Era ódio, ódio e ódio. Um leitor atento postou um comentário me informando que esse tipo de provocação contínua era coisa de troll. Lá fui eu à Wikipédia. A internet é o meio da rua, tem de tudo, já havia me dito uma amiga. A internet tirou os véus da humanidade e mostrou o quanto somos imperfeitos, cruéis, amargurados, levianos, covardes. A rede mundial livrou os humanos das regras de civilidade que o contato pessoal exige. A web fez picadinho do recato e da polidez. Nela, tudo é permitido; nela, Deus não existe.
Depois que até o Chico Buarque foi alvo de comentários agressivos na rede confirmei o que já desconfiava: o mundo virtual é um clarão de realidade que a gente nem sempre dá conta de encarar. Há mais de 50 anos, o incrível Chico é amado e reverenciado por uma legião de brasileiros. Mas há os que não gostam dele e que, até o advento da internet, não tinham onde se manifestar. A internet dissolve ilusões, alastra o mal, revela que o mundo não é uma sala de espetáculos. O melhor a fazer é o que Chico fez: deu uma gargalhada quando contou as agressões sofridas. Pôs os trolls no seu devido lugar.
Formatação & digitação
Ir. Vicente Fialho